É bem possível que você nunca tenha tido essa dúvida em Pathfinder 2e. Mas esse não é o meu caso. Essa dúvida ficou agarrada na minha cabeça por muito tempo e mesmo perguntando para diversos jogadores e narradores de diversas comunidades, nunca houve um consenso. Claro, acabei conversando comdiferentes pessoas, cheias de certeza nas suas interpretações, mas não contribuíram tanto no esclarecimento da situação.
O problema
Talvez você nem entenda qual é a dúvida que surge nessa situação. Então vou tentar explicar o drama: Primeiro, vamos conferir a condição "atordoado" na página 618 do Livro Básico: "Você fica atônito. Você não pode agir enquanto estiver atordoado.
Atordoado sempre inclui um valor, que indica o total de ações que
você perde, possivelmente ao longo de vários turnos, por estar
atordoado. Cada vez que recuperar ações (como no início de seu
turno), reduza o valor recuperado pelo seu valor de atordoado,
e então reduza seu valor de atordoado pela quantidade de ações
perdidas. Por exemplo: se estivesse atordoado 4, você perderia
todas as suas 3 ações em seu turno, reduzindo seu valor para
atordoado 1; em seu próximo turno, você perderia mais 1 ação,
e depois poderia usar suas 2 ações remanescentes normalmente.
Atordoado também pode ter uma duração em vez de um valor,
como “atordoado por 1 minuto”. Neste caso, você perde todas
suas ações pela duração listada.
Atordoado sobrepõe lento. Se a duração de sua condição
atordoado acabar enquanto estiver lento, deduza as ações
perdidas pela condição atordoado das ações perdidas por
estar lento. Portanto, se estivesse atordoado 1 e lento 2 no
início de seu turno, você perderia 1 ação por estar atordoado
e perderia somente 1 ação adicional por estar lento, portanto,
ainda teria 1 ação remanescente nesse turno."
Segundo, para entender a condição perfeitamente, precisamos conferir também a parte Ganhando e Perdendo ações na página 622 do Livro Básico.
"Acelerado, lento e atordoado são as formas principais que
fazem você ganhar ou perder ações em um turno. As regras
explicando o funcionamento disto aparecem na página 462.
Em resumo, estas condições alteram a quantidade de ações
que você recupera no início de seu turno; portanto, ganhar a
condição no meio de seu turno não ajusta sua quantidade de
ações nesse turno. Se estiver sendo afetado por condições
conflitantes que afetam sua quantidade de ações, você
escolhe quais ações perde. Por exemplo: a ação ganha de
rapidez lhe permite somente Andar ou Golpear, portanto,
se você perder uma ação por também estar lento, poderá
decidir perder a ação de rapidez, permitindo-lhe manter suas
outras ações que podem ser usadas de forma mais flexível.
Algumas condições lhe impedem de usar um determinado
subconjunto de ações, tipicamente reações. Outras
condições simplesmente dizem que você não pode agir.
Quando não puder agir, você é incapaz de realizar quaisquer
ações. Ao contrário de lento ou atordoado, isto não muda
a quantidade de ações que você recupera; simplesmente
lhe impede de usá-las. Isso significa que se de alguma
forma você for curado de paralisia em seu turno, você pode
agir imediatamente."
Agora que temos as duas regras que precisamos, vamos ao problema. Imaginemos a seguinte situação: Manoel, o monge, gasta suas duas última ações no turno usando a atividade de preparar. Ele informa ao narrador o gatilho de sua preparação: Quando o Goblin Cheiroso terminar uma ação de movimento adjacente a mim, eu usarei minha reação para utilizar minha rajada de golpes! O turno de Manoel termina e agora é o turno do Goblin Cheiroso. O turno do Goblin Cheiroso inicia. Em sua primeira ação de movimento, ele cai na armadilha de Manoel. Manoel dispara sua rajada de golpes acertando um dos socos no Goblin Cheiroso. Como Manoel possui o talento Punho Atordoante, o Goblin Cheiroso precisa fazer um teste de Fortitude ou ficará atordoado 1 (em uma falha). O Goblin Cheiroso faz o teste e obtém uma falha recebendo a condição atordoado 1 durante o seu próprio turno e ainda possuindo 2 ações.
Nesse momento que a dúvida surge. Se pegarmos a parte destacada da condição atordoado que informa "Você não pode agir enquanto estiver atordoado", podemos entender que, até que o Goblin cheiroso remova totalmente essa condição, ele não pode usar ações, ações livres ou reações, correto? Correto.
No entanto, na parte da regra que informa sobre ganhar ou perder ações, temos a seguinte frase "ganhar a condição no meio de seu turno não ajusta sua quantidade de ações nesse turno".
Se obedecermos a essas duas regras, o seguinte acontece: Goblin Cheiroso fica atordoado 1 e não pode mais agir nesse turno (inutilizando suas duas ações que sobraram), ficando, assim, incapaz de usar reações e ações livres até que seu próximo turno inicie.Somente quando seu próximo turno começar, ele poderá "pagar"a ação de atordoado 1 para encerrar essa condição.
Se obedecermos as regras como estão escritas, esse é o resultado correto. No entanto, para quem já tem alguma experiência no sistema, isso é absurdamente forte. Muito mais forte do que deveria ser.
*Durante minhas discussões por aí, vi outras interpretações da regra onde uma delas, por exemplo, sugeria que a frase Você não pode agir enquanto estiver atordoado não possuía efeito de jogo. Essa interpretação está incorreta.
**Essa realmente não é uma situação comum, como provavelmente você está imaginando. Mas é como funciona uma das magias de foco do meu personagem psíquico. A magia é a Forbidden Thought. Por isso, fiquei procurando bastante pela interpretação correta.
A solução
Com essa situação, qual a melhor forma de lidar? A regra como escrita não parece nada justa ou equilibrada, mas, se vamos ignorar a regra, como seria feito? Bom... felizmente rolou uma live de perguntas e respostas com o Mark Seifter e aproveitei para perguntar!
A resposta dele, em resumo, é que realmente há uma sinuca de bico nessa situação. Ele fala que cada um resolve da forma que achar melhor, mas que ele prefere ignorar a regra de ganho e perda de ações e 'pagar' a ação de atordoado imediatamente.
Essa resposta me deu uma paz. Não só por, ter uma orientação de alguém que participou do desenvolvimento do sistema, mas, também para relaxar quanto ao uso das regras na mesa.
Eu sou da filosofia de que quanto mais eu domino as regras, mais confortável eu fico em ignorá-las ou alterá-las.
![](https://static.wixstatic.com/media/c1a611_ed19201d7eef40189049c98c7cbafeeb~mv2.png/v1/fill/w_900,h_860,al_c,q_90,enc_auto/c1a611_ed19201d7eef40189049c98c7cbafeeb~mv2.png)
O Goblin Cheiroso ficou feliz porque não será atordoado por mais tempo do que deveria!
Agora, acho que me sinto ainda mais confortável em alterar regras que considero injustas, mal escritas, desequilibradas ou desatualizadas. Alguns exemplos do que estou falando são os domínios divinos limitando o acesso à magia pela ordem de lançamento dos livros e a proficiência de armas do ladino sofrendo do mesmo problema. Pathfinder 2e é um jogo muito bem feito no qual pouquíssimas responsabilidades de ajuste de regras ficam nas costas do narrador. No entanto, quando isso acontece, o próprio sistema pode ser usado como perspectiva pra achar a melhor solução. Mas para isso, quanto mais dominar o sistema, melhor!
ความคิดเห็น